A maior chacina registrada em Goiás e que ocasiona um dos maiores traumas da história da polícia goiana faz lembrar entidades terríveis da mitologia grega. As Erínias – Tisífone, Megera e Alecto – representavam o castigo e o rancor intermináveis. Elas eram incumbidas de punir os mortais e promover a vingança, sobretudo quanto a crimes em que sangue houvesse sido derramado. Era uma punição ao livre arbítrio da maldade humana e à fatalidade do destino tecido pelos deuses. Em ambos os casos, não havia perdão ou misericórdia. Quando Truman Capote escreveu o clássico A Sangue Frio, ele descreveu os assassinos de toda uma família na zona rural do Kansas – algo semelhante ao que ocorreu em Doverlândia – como homens que não tiveram essa misericórdia para com suas vítimas ao dar vazão à desrazão. No livro, baseado em um atroz fato real, tenta-se entender o que motiva uma pessoa a disseminar desastres sobre quem nem conhece. Não há uma conclusão e sim um sentimento de impotência diante do inexplicável, do irreconhecível.
Aparecido vai entrar na triste história dos homens que não aplacaram suas fúrias, que não mediram seus desastres, que não foram perdoados pelo destino. As pessoas que acabaram vitimadas por força tão descomunal – que surge quando menos esperamos, onde menos suspeitamos e atingem quem sabemos que não merece – também estiveram impotentes, na maldade e na fatalidade que alçaram o jovem a protagonista de duas imensas tragédias, de dois enormes desastres. Não há como explicar o imponderável, não há como se defender do imprevisível, não há como compreender algo que está além de qualquer justificativa. Em um de seus trabalhos mais geniais, o escritor Henry James diz que o mal a uma criança só é pior quando cometido contra duas crianças porque, assim, duplica-se um horror que já é indizível. No caso de Aparecido, à chacina de sete pessoas seguiu-se a morte de mais sete e de sua própria. Ao ignóbil somou-se o impensável. Quantos desastres podem haver em uma única mão?
Wallace Ferreira/Plantão de Policia JTI
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